Presságio.
Sentado em uma cadeira de vime ao lado da janela, balançava ora a perna esquerda, ora a perna direita, não eram sincronizados os movimentos de ir e vir dos membros inferiores. Até porque, às vezes eram as duas ao mesmo tempo. As vezes levantava a direita um ou dois palmos de altura do chão, aí movimentava a perna para o lado direito, depois para o lado esquerdo. Depois levantava a esquerda dois palmos do chão, mas a direita seguia para as alturas, mais de cinco palmos de altura.
A chuva lá fora era constante, fria, muito úmida, o vento sem direção definida esculachava com as possíveis previsões: ora ele seguia para o norte, ora para o sudeste. Quem assoprava aquele vento, com certeza não tinha a menor noção de direção, de intensidade. Este ser invisível que provocava o vento, não era poético ou escritor, com certeza um ser juvenil.
As nuvens de tão carregadas, intensas e escuras, não despejavam apenas água e mais água; na frente de cada pingo, de cada raio, haviam pulsos e mais pulsos de tristeza, melancolia e suspense. Um temporal leve, constante, muito frio, mas que ao bater no chão, o peso abalava aqueles que a vigiavam.
O quarto estava sempre sobre uma névoa, uma semi escuridão, luz ali, só natural. O piso de madeira por debaixo dos móveis já havia sinais de umas coisinhas verdes, minúsculas, microscópicas, entrementes, no trieiro havia sinal de limpeza, de zelo, mas só no trieiro.
Goteiras haviam várias, mas nenhuma, mas nenhuma mesmo, saltava do telhado até o chão do quarto diretamente. Provavelmente, ao pousar no telhado, acrobacias e saltos ao ar livre não contagiavam as gotinhas da chuva. Nada disso. Ao penetrar pelas ranhuras, pelas frestas abertas pelo tempo, por orifícios quase imperceptíveis, desciam pelas caibros, seguiam com braços firmes pela cumueeira até ganhar a parede. Pelas paredes desciam a passos largos, quase um galope, ao chegar ao piso descansavam nas coisinhas verdes minúsculas. Não formavam poças, as coisinhas verdes as abraçavam, mantendo-as sempre juntinhas.
Jacinto, homem de mais de um metro e noventa de altura, musculoso. Seus músculos foram forjados pela vida, não em academias, piscinas ou qualquer atividade física. A janela estava a meio pau, vento e chuva fria adentravam tocando-lhe na face. Apesar dos respingos, mantinha os olhos bem abertos, vigiando cada gota que caia lá de cima, sabe-se lá de onde vinham tantas gotas.
A mesa ao seu lado direito não tinha toalha ou coisa parecida, a tampa de uma caixa de sapato, na verdade, tampa de uma caixa de botina industrial, era improvisada no lugar da toalha. Dentro da tampa, havia pão amanhecido, meia rosca doce, café na garrafa, copo não, nem xícara. Uma asinha de frango frita, alguns sachês de açúcar, sal, maionese, ketchup e um colherzinha de plástico, esta estava trincada, mas ainda servia para seus propósitos.
Esticou o braço direito lentamente, sem perder uma gotinha sequer que caia. Pegou na asinha de frango acreditando que era a rosca doce; levou vagarosamente até a boca, olhos fixos para frente. O vento, os respingos de chuva e o frio agrediam sua face já enrugada de tanto ficar exposta ao sol. Mordeu na asinha com força, com fome, determinado a sangrar a fome que já lhe carcomia as paredes do seu estomago a dias.
O irmão de Jacinto, Terêncio, minutos antes de morrer, ouviu sua mãe gritar com forças que estavam além das forças dela:
-- Animal! Você é um animal sua besta! Como eu fui parir um animal dessa espécie, que desgraça!
O pai se comportou diante do surto da esposa as gargalhadas, mas o corpo estava estático ao lado do filho que partia para outro mundo. Com um esforço sobre-humano apontou o dedo para o filho e se afogou nas golfadas das suas gargalhadas.
O pai, senhor Jatanael era muito baixo, quase um anão, se salvou da condição de anão por um centímetro e meio. Era gordo, muito gordo, a pele de tão esticada pelas gorduras, dava a impressão que a qualquer momento racharia como se fosse um porco na engorda, num curral.
Terêncio, o filho mais velho, era ajudante de servente de pedreiro, mais conhecido por orelha-seca. Só descarregava e carregava caminhões de material de construção, principalmente areia, brita e terra. Ganhou na loteria, seu bilhete lhe rendeu o suficiente para realizar um sonho.
Comprou dois porcos: um para a família, o outro Terêncio matou, limpou, assou e comeu, comeu o porco inteirinho. O suíno depois de limpo, tinha exatamente o seu peso. Comeu tudo! Começou pela barriga, as partes mais adiposas, não perdoou nada, beiço, orelha, pé, até os olhos do porco desceram garganta abaixo de Terêncio.
-- Tem um porco inteirinho dentro de mim, o porco já me incorporou graças a Deus! Terêncio disse com um sorriso patético.
-- Animal! Sua besta! Você não passa de um pateta, seu animal! Esbravejava a mãe com forças além das possíveis de uma mulher normal.
Terêncio morreu com um sorriso largo, radiante, de causar inveja em qualquer ser vivente desse mundo. Seu último movimento foi engolir o derradeiro pedaço do porco, um torresmo que estava enroscado entre os dentes da arcada debaixo.
A mãe de Jacinto, dona Criolina Liz, tinha lá seus arrombos, seus surtos que lembravam o vale das sombras. Gritar com mais forças que a capacidade dos seus pulmões era um, entre vários. Um outro era bater no marido com um pedaço de pau, de preferência um sarrafo, um caibro, um galho de jabuticabeira ou coisa parecida. Era sempre assim, o marido chegava bêbado em casa, risonho demais, com lágrimas lhe abluindo o corpo.
A água salgada que jorrava pelos cantos dos olhos desciam além dos joelhos, que paisagem estúpida era para sua esposa já com o porrete a lhe benzer. Dona Criolina Liz, benzia o marido com várias sarrafadas na escápula e no gargalo. Uma mistura de êxtase e libido acelerado, causava todos os tipos de prazeres na senhora Criolina.
O pai, senhor Jatanael, um sujeito modesto além do necessário, além do imaginário possível, chegava a ser inumana sua visão de mundo.
Jatanael dava os conselhos mais simplórios aos filhos:
-- Meus filhos, não busquem coisas grandes, as mais humildes e simples que lhe abrolharão paz e alegrias no mundo. Nada de estudar, fuja desse inferno, esse antro de perversidades de desejos funestos. Busquem os trabalhos mais simples possíveis, realizem suas tarefas o melhor possível, assim deitaram todos os dias com a consciência em paz e com Deus em seu coração. Nunca corra atrás do luxo, contente apenas com o necessário de cada dia.
Terêncio admirava o pai além da imaginação humana: seu pai era uma cópia perfeita de Deus pra ele na terra; mas não entendia, quando criança, muito criança, ainda de colo, dois três meses de idade, a mãe estava sempre irritadíssima com o pai. No final de sua irritabilidade com o pai ouvia a mãe sentenciar o pai:
-- Esse cretino do meu marido é um espírito de porco, se não houver uma manada de porcos dentro dele, um eu tenho certeza, sujeito palhaço.
A asinha de frango foi destroçada como se estivesse sendo esmagada por uma morsa hidráulica. Os ossinhos foram todos esmagados com uma perfeição fatal, carne, cartilagem, pele, carne e ossos foram impactados por uma força descomunal. A asinha transformou-se se numa massa amorfa e horrenda, dando mil e uma cambalhotas dentro da boca de Jacinto.
Enquanto a coisa em que a asa de frango estava se transformado e dando várias piruetas, para Jacinto o tempo parou: literalmente estacionou e não saiu um milímetro do lugar. No mesmo instante que os dentes trucidavam a asinha, duas lascas do osso da asa tomaram a forma de farpas muito pontiagudas, atravessaram o osso dos dois dentes incisivos centrais por meio da cárie que existia por de tráz dos dois dentes da frente.
As duas lascas foram direto ao encontro dos nervos dos dentes centrais. Jacinto permaneceu imóvel, não levou a mão até a boca, nem pensou em retirar os objetos que lhe causavam uma dor intensa, continua. Jacinto não pensava, apenas observava como a dor se espalhava pelo corpo, como a radiação desse pulso nervoso corria por cada parte do corpo. As mandíbulas por instinto, tentaram de imediato se encontrar, mas ele as impediu. As pernas tentaram se mover, tirar o corpo da inércia, mas não permitiu. O corpo queria, implorava por se dobrar ao máximo, mas esse instinto também foi negado.
A dor agora percorria como uma corrente alternada, sequestrou o coração, o ritmo das batidas. Ficou estático, petrificado, para em seguida bombear os pulsos que tinham origem no nervos dos dentes. Nesse momento atemporal, nesse momento eterno, Jacinto comparava a dor física com a dor da perda, do fracasso, do amor não correspondido. A perda que não fere o corpo, mas estraçalha a alma. O espírito arromba e assalta a esperança. Na falta da esperança, esse acessório humano, só há o vazio, o nada, a decrepitude.
A chuva não parava, as goteiras também não. O frio, a umidade também continuavam a passar pela janela a meio pau. Jacinto percebia tudo, nuvens descoloridas, chuva que não molhava, o frio que lhe queimava, a casa. Não tinha nenhum sentido estar nela.
A dor percorreu até a ponta dos pés, nesse momento, a máquina que movimenta o tempo, foi ativada. Jacinto se manteve impávido, indiferente, observava que a cada microssegundo, a dor retornava à sua origem.
A dor nos pés agora era a dor sapato apertado por estar muito molhado. O coração voltou a pulsar e não pulsos nervosos. O sofrimento se limitava na raiz dos dentes, na morada do nervo, com parcimônia. Lenta e conscientemente, retirou as farpas de ossos da asinha de dentro dos dentes com sobriedade. Tirou uma de cada vez.
Com as ferpas em seus domínios, foi até o banheiro, lavou as ferpas, enxugou e as guardou em uma caixa de fósforo. Foi até o quarto e depositou a caixinha com as farpinhas, debaixo do travesseiro. Seguiu direto para a cozinha, abriu a geladeira, pegou água e bochechou conduzindo até os dentes feridos com jatos de água gelada.
A cada jato de água nos dentes cariados, era uma momento de êxtase, de júbilo, de uma graça santificada e prazer!
Bochechando com toda a pressão que lhe era possível bombear água gelada para o interior da cárie, Jacinto seguiu até a janela semiaberta, arriou a toda e com uma cusparada atómica, expulsou tudo que havia dentro de sua boca.
Respirando pela boca, o ar gelado da chuva era como pequeninas alfinetadas dentro dos dentes cariados. Pequenas dores? Que isso! Um mimo suficiente para massagear o ego de Jacinto.
Por volta das dez horas da noite, jacinto saiu da sala, estava cansado de ver a chuva que insistia em cair constantemente. Fechou a janela e conferiu se havia passado o ferrolho da porta, seguiu até o quarto e deitou na sua cama manca. De barriga para baixo, pegou a caixa de fósforos e a sacudiu para conferir se as farpinhas estavam lá. O cansaço, sacudir a caixinha e o som provocado pelas farpas, fez Jacinto pegar no sono rápido, muito rápido.
Acordou às oito da manhã, o céu estava absurdamente azul, as ruas secas como se não chovesse a anos. Um ar que trazia partículas de mato queimando, gasolina, óleo diesel, fuligem das indústrias pesadas, o sol com seu brilho indiferente, alumiava a cidade como antes e como iluminará sempre. Jacinto seguiu para o banheiro, escovou quase todos os dentes, menos os cariados. Evitava que qualquer coisa tocasse nas aberturas por trás dos dois dentes frontais. Seguiu direto para o centro da cidade: carros, caminhões, motos, bicicletas e ônibus disputavam cada espaço possível das avenidas.
Antes de atravessar a avenida, segurou fortemente pelo pescoço um moleque desavisado. Se jacinto não lhe desse um pescoção, agora o infeliz estaria debaixo de uma carreta carregada de barras de ferro 5/16.
O semáforo fechou para os veículos, liberou a passagem para os pedestres. Jacinto seguiu ligeiro pela faixa do pedestre e ganhou a outra margem da avenida, seguiu direto até uma loja de armarinho. Antes de adentrar na loja alguém lhe chamou atenção, fixou o olhar para a outra margem da rua, e percebeu que era o pai do menino agradecendo por salvar o filho.
Ao entrar na lojinha se deparou com duas moças, uma loira caolha e uma morena bonita, mas indiferente com a sua chegada. Escolheu a caolha.
-- Por favor, quero duas agulhas de tamanho médio para grande e do melhor aço que você tiver, orientou o pedido para a loira caolha.
De imediato Clausimeire, a loira caolha, levou as mãos até o rosto tapando o nariz e boca e falou em voz alta um pressentimento:
-- Misericórdia, puta que pariu! Que catinga é essa? Meu Deus do céu!
A atendente levantou uma das mãos como sinal para esperar naquele lugar. Ela iria buscar as agulhas.
Enquanto esperava, Jacinto ficava chupando os dentes cariados e em seguida, assoprava para deliciar com uma pequena dorzinha. Todos os fregueses ao chegarem no interior da loja de imediato, ao respirar dentro da loja, fugiam do local como o demônio foge de Deus, resmungando:
-- Que fedor! Nossa senhora da Abadia!
A morena acendeu uma vela e passeava pela loja, mas não se atrevia a chegar perto do cliente. Deus me livre, falava com seus botões.
A caolha estendeu a mão direta com duas agulhas, explicou que eram de aço inoxidável e que eram as únicas daquele tamanho. Entrementes, era o tamanho que o cliente queria. Pagou e seguiu direto até a praça central.
Ao chegar na praça, procurou o banco mais próximo do centro da praça, sentou e puxou as agulhas cuidadosamente do saquinho. Olhou para os prédios, para as lojas, para as pessoas, as plantas e disse baixinho:
-- Eis a minha dor!
Em seguida, Jacinto enterrou as duas agulhas, uma em cada dente, de forma perfeita penetraram pelo canal dos dentes na mesma velocidade, até encontrar os nervinhos, o pontinho de partida do seu maior prazer.
Aos domingos, ao chegar na igreja, introduzia as agulhas, comtemplava a dor e em seguida, a oferecia ao criador. Quando era convidado par ir a uma festa, na entrada da casa, esgueirava por algum bico, em alguma fenda e metia as agulhas no dente. Sempre, sempre, sempre, dizia:
-- Eis a minha dor!
Com o passar do tempo, Jacinto fez a maior descoberta da sua vida e dos seres humanos: a dor é a mais bela realidade, a dor é o paraíso; portanto, a verdadeira felicidade não era o sentir, a ligação do espírito com o criador é a inocente dor. O Éden só pode ser contemplado por agulhadas.
Agulhadas vem e vão, agulhadas dias outros também, todavia, num belo dia, percebeu que as agulhadas estavam pequenas, as contemplações do paraíso muito leves, quase insignificantes. Não titubeou, comprou um espetinho de carne num boteco que ficava na esquina da sua casa. Comeu a carne rapidamente elevou o palito aos céus por puro agradecimento ao criador por ter um espeto por perto.
Sentiu como se fosse a primeira vez, comtemplou a radiação dos impulsos nervosos dissipando por todo o corpo. Alguns segundos depois, soltou a respiração prazerosamente:
-- Eis a minha dor! O meu acesso ao Éden está restaurado.
A alegria agora se misturava com uma preocupação enorme e inimaginável para Jacinto, percebeu que o palito entrou quase todo pelo canal, atingindo, com certeza, o nervo que ficava próximo do globo ocular.
O que fazer? O que devo fazer, meu pai? Remoía em questionamentos. Os nervos estavam necrosando!
Seguiu direto pra casa, nem percebeu que alguns fregueses ficaram de boca aberta pelo que haviam assistido, uns jogaram seus espetos fora, outros perguntavam entre eles:
-- Como pode isso, Jesus Amado?
-- Minha dor de dente voltou só de ver isso.
-- Não como espeto mais aqui, olha só onde está o palito? Em cima da mesa.
-- Pior! Mais da metade do palito está cheio de sangue preto e essas coisas amarelas.
-- Oh loco meu.
O burburinho era ensurdecedor.
Tainara a louca, irmã de Jacinto viu tudo, não mexeu um músculo sequer para sair do lugar. Continuou no canto mais afastado do buteco tomando sua pinga misturada com Jurubeba Leão do Norte. Comia jiló cru com limão de tira gosto. Após beber sua cachaça e comer todo o tira gosto, escarrou no chão um trem ruim que estava preso debaixo da língua.
O dono do buteco olhou para a bucha verde que Tainara cuspira no chão, depois olhou pra ela, decidiu que o melhor era limpar calado, pois a louca era imprevisível.
Bateu na porta, porém, a porta moveu o suficiente para que a louca, irmã de Jacinto, percebesse que a porta estava destrancada. Empurrou a porta, fechou e seguiu até um quartinho de despejo da casa. Retornou até a sala. Olhou para os caibros, para a cumeeira, as paredes, observou atentamente o trieiro que se formou entre os móveis, até a fauna por debaixo dos móveis não passou despercebida:
-- Quem está?
-- Sou eu, sua irmã, pode ficar aí no quarto, vou até você.
A irmã, a louca, aproximou-se do irmão com um sorriso que ia de uma orelha até a outra. Observou o irmão deitado meditabundo em algo extremamente importante, pois nem se mexeu do lugar, nem um oi, um olá, nada. Permanecia deitado no seu quarto quase sem luz em sua cama manca:
-- Jacinto, por favor, posso olhar seus dentes? Por favor, abra a boca só um pouquinho.
O irmão abriu a boca devagar, perdido em suas preocupações existências, não se preocupou e se interessou pelas razões que a mana lhe pedira para ver seus dentes.
Antes de distanciar as arcadas dentárias no limite, sentiu e puxou, um leve beliscão. Permaneceu deitado, apenas investigou mais minuciosamente o que a louca da mana tivesse feito.
Tainara estava com o corpo todo aprumado com um alicate numa mão, na ponta da ferramenta, estava o resto dos dois dentes frontais.
O mano ainda deitado, passou a pontinha da língua onde sempre encontrava os dois dentes cariados frontais, nada! Um vão? Uma passarela surgiu aqui? Estou com uma banguela enorme!
Minha dor! Meu Éden! Estou perdido para sempre nesse mundo hostil. Inumano!
Jacinto foi até o quartinho, em menos de um minuto retornou até a sala, admirou mais uma vez todos os detalhes da sala, dos móveis, das paredes, tudo, tudo, tudo mesmo! Encostou na única porta que dava acesso ao interior da casa.
Não olhou para a irmã, não pensou na família, em pessoas, em bichos em árvores, apagou todas as imagens e lembranças da sala, do quarto, de onde estava.
Um som de violino entrava pela janela, som descompassado, notas arranhadas de um possível recém aluno na vizinhança. Seria violino mesmo? Jacinto num movimento único, forte e certeiro, trespassou seu peito, sua caixa torácica, o coração, seu pulmão esquerdo, por entre uma costela e outra. A lâmina do punhal enorme, perpassou todo o corpo, adentrou por uma rachadura na madeira da porta. O punhal penetrou o suficiente na porta para manter o corpo de Jacinto cravado em pé na porta.
Tainara contemplou o corpo inerte do irmão pendurado como uma vassoura na porta do quartinho de dispensa. Foi até o quarto, pegou a caixa de fósforo que estava em cima da cama.
Retornou à sala e falou para o irmão:
-- não vou te incomodar.
A irmã pulou a janela e foi embora com os pedaços dos dentes presos no alicate falando consigo mesma:
-- Puts!