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Muito Cansada Demais.
 

Parte II
 
     Acordou sem sobressaltos bem cedo no dia seguinte, jogada em seu leito, relembrou, remoeu, ruminou tudo pari passu[i] com a razão e a emoção. Assenhoreou-se do botão de rosa que descansava ao pé do catre. Continuava exalando seu perfume bom, algumas pétalas rompiam o abraço de outras pétalas e se abriam buscando a forma de uma futura flor.

     Levantou fatigada, ainda confusa e pensativa, mas decidida a prosseguir sua labuta do dia-dia. Foi até o banheiro, escovou os dentes, lavou o rosto, penteou malê-malê os cabelos, esparramou seu blush preferido. Com lápis preto contornou os olhos com uma linha bem grossa e nos lábios usou o batom preferido: marsala. O pincel deslizou suavemente o esmalte de cor café intenso. Soprou as unhas com os olhos semicerrados. Corpo esguio, já vestida em sua blusa cropped de renda branca, escolheu um short cinza claro de algodão, calçou um tênis maxi knot branco, conferiu tudo no espelho. Pôs-se de acordo com sigo mesma, estava pronta para a faina.

     Antes de sair de casa conferiu as janelas, uma a uma, estavam fechadas e trancadas. Verificou cuidadosamente a porta dos fundos e ao passar pela porta da frente, conferiu quantas voltas a chave deu: foram duas, a lingueta da fechadura estava esticada ao máximo, aferrolhou a porta. Passou pelo portãozinho de madeira e correu a tramela. Olhou aos céus e buscou o azul mais distante. Se benzeu.
Seguiu para o trabalho com seus passinhos breves, macios e simétricos, não fugia a um olhar, mas fustigava com um olhar intenso, constante e certeiro, seu olhar intimidava qualquer um dos seus aspirante.

     Seguiu seu dia de trabalho como dantes, nade de novo. Os assuntos entre colegas sempre os mesmos. No intervalo para o café as mesmas pessoas. Achou tudo muito enfadonho: as piadinhas, as conversinhas fiadas. Aproximou de Marcela, pensou em relatar o ocorrido na casa. Desistiu. Marcela é uma mulher muito intensa, zela até demais das colegas, um pouco arredia com os colegas, mas solicita com as amigas.

     Valentina trabalhou o dia todo pensativa, longe de onde se encontrava. Um sentimento lhe machucava ao ponto de sentir o fígado sendo corroído. Sentiu temor e tremor ao chegar o fim do dia no trabalho. Retornou pra casa nos seus passinhos delicados.

     Ao chegar na quadra de sua casa, um garotinho lhe roubou os pensamentos e temores, os dois seguiram conversando até perto da entrada da casa. O molequinho retrocedeu correndo com um largo sorriso nos lábios; Valentina deu tchau ao pirralho. Girou para entrar em casa. Não conseguiu! Lágrimas lhe embaçaram as vistas. Um tremor a impediu de caminhar, tentou buscar os céus para exprimir, contar, discorrer com.…. Não conseguiu. A porta da casa estava aberta!



Obs: a imagem foi retirada do Google.
 

[i] No mesmo passo, mesmo ritmo
 
 
Eder Rizotto
Enviado por Eder Rizotto em 11/02/2017
Alterado em 08/03/2018


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Imagem de cabeçalho: raneko/flickr