Textos


Papo de Buteco
 
Sarney, FHC e Lula.Tutores de Nosferatu
 
1ª parte
 
          Se há um local no qual e os homens são verdadeiros, este local é em um buteco. Isso mesmo, buteco com u. Ali, os homens sentem-se isolados do mundo, imunes as parceiras neuróticas. Os melhores botecos são conhecidos pelos nomes: pé-inchado, copo-sujo, muquifo etc. Interessante... o que este paraíso teem há oferecer? Cerveja, cachaça, Drury’s, ovo cozido, quibe, torresmo e limão. Limão pra jogar na cachaça, na cerveja e no torresmo.
          Em todas as cidades do Brasil existe um boteco, esses locais, são conhecidos por: Perdição, ou um antro de vagabundos. Mas está no DNA das cidades do Brasil, sem exceção. Cidade, distrito, povoado, seja lá o que for, onde há moradores tem que ter um boteco, caso contrário é um lugar morto.
     Outro dia, este que vos escreve, já não se lembra quando exatamente, mas não foi num passado muito distante, o fato é que, o caso já ocorreu, não volta mais. Lá foi Enrico em um botequim com três amigos, Edzoner, Edsonnei e Ethivani. O boteco é do Boca-de-ouro, conhecido por Bar-do-pé-inchado.
          Já se tornou um ritual, os quatro cavalheiros chegam e pedem uma cerveja: Boca-de-ouro primeiro recolhe as garrafas esquecidas na mesa, depois os copos sujos, limpa a mesa e nos oferece um pano meio cinza meio bege pra limpar o assento das cadeiras. Geralmente expulsa um corpo inerte ao lado da mesa com a ponta dos pés.
         Papo de boteco tem que ser assunto que não tem fim. Há divergências que beiram as raias da loucura. Paixão na defesa, desfaçatez na opinião que os outros têm. O cinismo às vezes toma conta de alguns dos personagens. Feliz ou infelizmente, é sempre assim, uma ladainha sem fim.
          Os temas preferidos são futebol, política e religião. O assunto religião está em baixa, perdendo força, não porque não seja interessante, mas a concorrência atualmente está ferrenha, só na cidade deve haver umas trezentas igrejas, mais os templos, mais os retiros. É demais!
          O assunto que surgiu naturalmente veio por uma força maior, numa estupefação, junto trouxe uns três dedinhos de vociferação. Edsonnei teve uma leve contração espasmódica facial. O tema, política! Lula, FHC, Sarney e os militares.
           Edzoner nos assaltou sem o menor pudor. __ O “bão” de todos esses foi o Sarney, no Estado do Maranhão todo mundo o ama, as pessoas beijam-lhe a mão como se ele fosse “padim-padi-çiçu”. Edsonnei tomando um gole de cerveja pra se acalmar, entremente quase se afogando devido a ânsia em responder. O ódio quase o fez chorar, segurou as lágrimas com força de super-herói, um mar de águas inundou a íris e o cristalino. Todavia as comportas eram fortes e detiveram todas as revoltosas águas. Um gosto salgado surgiu-lhe na boca. Não houve tapa na mesa, mas quase, apenas um rosnado.
          Com todas as emoções contidas Edsonnei balbuciou:
       __Lula foi o melhor, pai dos pobres, não foi dedo-duro como foi o pelego do Sarney que andou de braços dados com os militares.
          Edsonnei em seguida acenou para Boca-de-ouro e gritou:
     __ Boca-de-ouro quero uma pinga, pode ser no copo sujo da cerveja e tirou o excesso da cerveja dos lábios com as costas da mão.
          Edzoner pensou, mas saiu em voz alta.
     __ Coitado do Edsonnei, não sabe que Lula quando era um operário, para receber uma indenização, decepou um dedo com uma máquina, ele só pode ser um pobre-de-espírito! Há boatos que Lula terminou de decepar o dedo com os próprios dentes.
          Ethivani, homem calmo das finanças deu seu pitaco.
         __ Fernando Henrique Cardoso ou se vocês preferirem, FHC foi o melhor! As três primeiras cervejas que lhes foram servidas não tiveram vida-longa, era como colocar água em radiador furado, mas na quarta o buraco do radiador já estava tampado.
          O motor já funcionava em marcha lenta e já arrefecera o suficiente. Os quatro já podiam estender as pernas, não agredir a mesa, ouvir o colega e pensar melhor para opinar. Opiniões agora abarrotadas de sarcasmo, ironia e prazer por todos estarem ali reunidos, mas lá no fundo, bem no fundo um grunhido era abafado, vivim vivim, mas já controlado.
          Foi um abraço inesperado, envolvente e nostálgico, a escuridão da noite já nos tinha assaltado, com sua delicadeza, desfaçatez e com a exatidão de um algoz. As esposas não compreendem por que os homens, às vezes, chegam tarde em casa.
          Os homens não perderam a inocência, a magia, o prazer, o deleite de serem tomados no torpor dos mistérios da natureza, de serem arrebatados pelo tempo para que a noite, essa santa e casta virgem, nos tome em seus braços sedosos e únicos, que fazem nos seres cândidos, que devaneiam e são dominados pela beleza da noite ao lhe visitarem.
Eder Rizotto
Enviado por Eder Rizotto em 27/01/2016
Alterado em 27/01/2016


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Imagem de cabeçalho: raneko/flickr