Textos


                                                           Ah Cortella

Foi num final de tarde de domingo que, sem-querer-querendo, comecei a assistir a um programa de debates, esses programas meio debate, meio entrevista, meio propaganda.
O entrevistado palestrante já é figurinha carimbada, filósofo já reconhecido pela mídia por seus alunos e por seus pares, respondia às questões com tanta propriedade e convicção que às vezes percebia que a entrevistadora se arrepiava e abafava um pequeno soluço, pois as afirmações do eminente filósofo lhe causava espasmos de admiração.
O local que acontecera o evento era, digamos, singular, o entrevistado numa cadeira giratória, os pés do eminente não alcançava o chão e o encosto da cadeira era baixo para o filósofo. Entorno do convidado havia outras pessoas que foram convidadas para também engrossar o caldo de perguntas ao sábio. O piso era escuro e paredes muito próximas, ou seja, o estúdio não era lá aquelas coisas! As luzes que eram usadas no local assim como as luzes direcionadas ao entrevistador e entrevistado não oferecia condições de nos revelar detalhes dos mesmos, o ambiente era mesmo meio embaçado, digamos!.
O tema: padres devem ou não aceitarem o celibato? Ou seja, tema religioso exclusivo da igreja católica. Aqui acrescento um dedo de prosa, temas religiosos faz meu fígado revirar, chega a dar cambalhotas, às vezes sinto como se tivesse uma mula coiceira a me castigar meu estômago de tanto coice. Não, não! Leitor amigo! Não sou ateu, mas temas onde há dogmas e a lógica e o bom senso são proibidos eu peço ajuda a Deus para suportar tanta ignorância.
O debate seguia bem, como se seguisse com as próprias pernas do tema, quando o entrevistado, num rebelão, num movimento de tremendo esforço para poder girar em torno de si mesmo, pois o mesmo não tinha os pés ao chão, se chacoalhou e moveu a cadeira um quarto de volta e fez uma afirmação como se fosse um fuzilamento siberiano:

 
“Quem não é católico não pode dar opinião sobre assuntos da igreja católica!”.


Não sei exatamente o que passou pela minha mente neste momento, mas me deu um branco ou perdi a noção de tempo e espaço ou tive um surto, minha mente, meu cérebro parou, estacionou em uma galáxia que não tem nem sois nem planetas ou coisas do gênero, ou seja, pairou o vazio!, O nada!
Não sei se voltei daquela galáxia com ou sem esforços, voltei, enxuguei os olhos, chorei? Não sei, o que você leitor amigo pensa, até onde um choro tem importância? Ao fixar os olhos na televisão o eminente filósofo e sábio ia se desvelando como o véu de Schopenhauer. A verdade ia se despindo sem pudor, sem dor e sem calor, nosso sábio é um homem tendencioso, assaz e contumaz; por que afirmo isso?
Quando questões religiosas ficam estritamente dentro das igrejas e com seus fiéis, sim, acredito que não há espaço ou possibilidades para não católicos questionarem suas diretrizes. Porém, quando a vontade de lideres religiosos passam a querer que suas orientações religiosas saiam de seus limites seja imposta aos não católicos, passo a defender a ideia que qualquer tema religioso é tema para qualquer um opinar. Há dois fatos extremamente importantes que me apego para afirmar minhas convicções, como se eu estivesse abraçado a uma tábua em alto-mar.
Primeiro, os tão propalados “fiéis” não são fiéis, pois mentem, caluniam, extorquem, matam e cometem tantas outras atrocidades. Há uma frase de um pensador que diz tudo, “o último cristão morreu na cruz”, gostem ou não, mas nunca vi pessoas religiosas sequer dividindo um pouco do que tem com quem nada tem, quanto mais dando a própria vida. Infelizmente, no mundo de hoje ser um verdadeiro cristão é assinar uma sentença de morte, bom seria se fossemos homens o bastante para seguir os ensinamentos do Cristo e não dos homens.
Segundo, na câmera dos deputados e no senado existem grupos de religiosos que tentam ( e às vezes conseguem) impor leis que são diretrizes de suas religiões ignorando que o estado é laico. Impor uma lei à força para pessoas que não são católicas ou evangélicas por acaso não é uma agressão, tirar o direito de um cidadão ou cidadã não é uma agressão, podemos até dizer, uma blasfêmia? Vejamos dois casos 1ª – o aborto: Se os “fiéis” não acatam as regras da própria igreja, por que criar uma lei que implica a todos? 1ªb – a igreja católica abriga ou acolhe todas as crianças nascidas de estupros? Essas mulheres que são vítimas não podem decidir ter ou não ter a criança, mas, a igreja não lhe dá nada, apenas obria as a manter o silêncio e agradecer por viver num ambiente miserável por vontade de uma igreja omissa. 1ªc – como a igreja pode afirmar que um estupro seja a vontade de Deus! Como que o papa, bispos e clérigos do alto escalão vivem em mansões enquanto Cristo viveu como um homem simples e pobre. 2ª A pesquisa em células troncos: A igreja católica e outras tantas igrejas evangélicas tentaram de todas as maneiras de impedir esse avanço tecnológico, porque? Porque eles acreditam que quanto mais a ciência progride, mais os homens afastam-se de Deus, que pena, pois estes religiosos são homens de pouca fé. A ciência existe para melhorar a vida do homem, quanto aos excessos da ciência entendo que é o mesmo risco que corremos com homens de pouca fé que conduzem as igrejas.
Um terceiro fato que passa despercebido, até entre os fiéis, a igreja é isenta de imposto de renda, e vive pedindo doações para o Estado, dinheiro este quem vem de milhares de cidadãos que não são nem católicos e nem cristãos, é muito cinismo dessas pessoas que se dizem “religiosas”
Felizmente, todo discurso expressa exatamente o que o autor é, digamos, subliminarmente, sub-repticiamente, ou seja, nas entrelinhas, todo texto escancara o sujeito e suas intenções são reveladas para todos que sabem ler.
Eder Rizotto
Enviado por Eder Rizotto em 19/01/2016
Alterado em 28/05/2019


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